Deitado no sofá da sala, com as pernas estiradas, debaixo de um cobertor bege e aconchegante, com a televisão ligada mas a atenção dividida entre o celular e o cair no sono, nesse perfeito momento de procrastinação escuto uma descarga. Ou melhor, a tentativa de uma descarga.
Nada de água. Somente o som da bomba da caixa acoplada reverberando em um vazio seco. Dez segundos se passam, e outra descarga frustrada. O pequeno banheiro - que na verdade é um lavabo, atua como caixa acústica para o próximo som que está por vir:
- Quando é que você vai arrumar essa descarga?
Agora frustrado, com as pernas recolhidas, cobertor jogado de lado, televisão desligada e com a atenção sequestrada por algo que não estava planejando fazer, nesse momento imperfeito ainda no sofá da sala:
- Mais tarde eu arrumo!
Mas lá no fundo, eu sei que é dentro desse minúsculo cômodo, sem janelas, de paredes beges - mas longe de aconchegantes, com um espelho esférico descascado nas bordas, iluminado por duas lâmpadas - mas apenas uma acende (um problema para outro dia), de uma pia redonda de cerâmica branca, que faz companhia com o tal vaso de caixa acoplada, também brancos, é exatamente lá, que junto com a descarga, também irá por água abaixo meus planos de procrastinar hoje.
- Pronto, arrumei!
De volta pro sofá da sala, com as pernas estiradas, debaixo de um cobertor bege e aconchegante, com a televisão ligada mas a atenção dividida entre o celular e o cair no sono…
- Mas e essa lâmpada, quando é que vai arrumar?